Dezembro chegou e com ele a contagem para o novo ano. Esta
expectativa gera em muitas pessoas um arrepio por dentro. Talvez por receio do
planejamento não realizado, pela incerteza do que virá, talvez porque muitas coisas
mudaram por dentro e por fora. A mudança não acontece sozinha, ela carrega várias marcas que, muitas vezes, são difíceis de apagar.
Conversando com uma amiga, ela me confidenciou que grandes
transformações profissionais aconteceram durante o ano que se despede,
provocando diversas mudanças, seja no modo de encarar o mundo, no encanto e na
serenidade da juventude, tornando-a uma mulher mais atenta às artimanhas da
vida, mais sedenta de justiça e mais sincera. Confuso? Não, apenas prova de que
os desafios irão nos acompanhar pelo resto de nossas vidas, e que as mudanças são
necessárias, mesmo se deixam rastros. Por outro lado, elas também abrem caminhos
para novas experiências.
Novidade é a palavra que resume o que buscamos em cada término
e início de ano. Embora o fantasma do futuro venha nos assombrar, seja por
meio da incerteza do amanhã, do cansaço pelos desafios superados no ano que
está finalizando, seja pelas aventuras desconhecidas do ano que se aproxima.
Culturalmente a chegada de um novo ano representa essa
sensação de incerteza, mas de forma efetiva o recomeçar, “a possibilidade de se
fazer diferente tudo o que foi feito anteriormente, não é só a mudança de data é
saber que com o amanhecer do dia primeiro de janeiro, tudo pode ser diferente,
se pode recomeçar”, afirma a psicóloga Samia Soraya Nunes.
Eis que de repente estamos arrumando as malas, mas não para
a viagem de fim de ano. Estamos organizando uma bagagem para o ano que está
chegando. Carregamos um pouco de tudo: o lenço da saudade, o vestido da falta
de paciência, o sapato da não despedida, a calça da lamentação, o colar da tristeza,
os brincos da decepção e a blusa da ansiedade. Com tantos utensílios pesados,
iremos pagar um valor alto pelo excesso de bagagem.
A melhor coisa a fazer, é tomar a iniciativa e, mesmo diante
dos últimos minutinhos para a virada do ano, jogar tudo fora. Desentulhar as
mágoas, as más lembranças, o que não foi feito, o que foi dito na hora errada.
Deixar para trás tudo aquilo que não vale a pena carregar para o novo ano,
afinal, na hora da contagem regressiva, o que importa?
A primeira coisa seria ter cuidado com as expectativas para
não fantasiar em demasia, explica a psicóloga. Ela orienta que “quando fizermos
as famosas promessas para o novo ano, devemos procurar estabelecer metas realizáveis
a curto e médio prazo, e cultivar esperanças; pensamentos mais saudáveis; menos
negativos, acreditando em si mesmo e na possibilidade de realização, afinal tem
um ano inteiramente novo pela frente, mais doze meses, 365 dias, para buscarmos
fazer diferente”, explica Samia Nunes.
Porém, o que cada um de nós considera importante levar para
o ano que se aproxima? Eu considero a vida, as boas lembranças, os sonhos, o
amor, a amizade, a esperança em dias melhores, a disposição para colocar as
ideias em prática, a determinação para os estudos e a vontade de chegar bem
longe, aonde a alma me levar.
Agradecimentos e lamentações à parte, de certo para o novo
ano, temos a vontade de começar tudo de novo, mesmo se os passos são lentos. Afinal,
mesmo nos comportando como uma tartaruga, iremos chegar a algum lugar, como diz
a Metáfora das Pulgas, ‘não devemos ter medo de crescer lentamente, apenas de
ficar parados’. Se fizermos um exame de consciência, quem de nós fica parado? Analisando
o nosso dia-a-dia a gente trabalha, estuda, faz caminhada, anda de bicicleta, sai
com os amigos, aproveita os fins de semana, assiste a filmes, temos tempo pra
ir ao salão de beleza, fazer compras, fazer limpeza na casa e ainda têm aqueles
que cuidam dos filhos, é ou não muita coisa?
O nosso erro é que somos muito exigentes e queremos sempre
mais – casa decorada, o carro do ano, o melhor trabalho, a roupa exclusiva – e
atrelamos a ideia de felicidade à conquista dessas coisas materiais. Que falta
de maturidade! Para o psiquiatra e escritor, Augusto Cury, no seu livro ‘Dez
leis para ser feliz’, felicidade representa uma conquista que começa nas
pequenas coisas.
“É sentir o cheiro da terra molhada, e rir das próprias
tolices. É ser alegre, mesmo se vier a chorar. É viver intensamente, mesmo no
leito de hospital. É nunca deixar de sonhar, mesmo se tiver pesadelos. É ser
jovem, mesmo se os cabelos embranquecerem. É contar histórias para os filhos
mesmo se o tempo for escasso. É amar os pais, mesmo se eles não o compreendem.
É agradecer muito, mesmo se as coisas derem errado. É transformar os erros em
lições de vida”, ensina o autor.
Parece simples, mas se a gente analisar, é bem complexo, mas
não impossível. Em outro livro, ‘Treinando a emoção para ser feliz’, o psiquiatra
Cury apresenta a felicidade como a mãe de muitos filhos e filhas: “do amor, da
tranquilidade, da sabedoria, da alegria, da paciência, da tolerância, da
solidariedade, do perdão, da perseverança, do domínio próprio, da bondade, da
autoestima. Nunca se viu uma família tão unida. Portanto, se você maltratar
alguns de seus membros, tem grande chance de perder a família toda. Se ferir o
amor, perderá a tranquilidade; se a tranquilidade abandoná-lo, perderá a
perseverança; se a perseverança partir, perderá a sabedoria; se a sabedoria se
for, a autoestima dirá adeus”, descreve.
O autor ainda nos dá algumas dicas para cultivar a
felicidade. Segundo Cury, devemos aprender a conhecer o mundo da emoção.
“Treinar a emoção é desenvolver as funções mais importantes da inteligência,
tais como: aprender a gerenciar os pensamentos, proteger a emoção nos focos de
tensão, pensar antes de reagir, se colocar no lugar dos outros, perseguir os
sonhos, e valorizar o espetáculo da vida”, enfatiza.