Enquanto os meus companheiros de viagem desatolavam o carro, eu apreciava a nova vegetação da comunidade Lagoa das Emas, localizada na região piauiense de São Raimundo Nonato. Era mês de janeiro e chovia forte no semiárido piauiense. Eu me diverti muito naquela tarde, pés na lama, roupas molhadas e uma enorme vontade de conhecer as histórias de vida que me esperavam naquela comunidade quilombola.
O primeiro personagem foi seu Martin Araújo, de 74 anos, morador do sítio cachoeira. Há 43 anos, ele mora na comunidade com os dois filhos, e recorda que o cerrado era a vegetação predominante e que não tinha casa e aos poucos foi construindo um rancho embaixo de um umbuzeiro. Aos poucos a comunidade foi crescendo e, atualmente moram 16 famílias que se sustentam da agricultura.
Seu Martin também foi o pioneiro a participar do banco de proteínas, uma iniciativa desenvolvida pelo projeto Dom Helder Câmara (PDHC) que estimula os agricultores a destinarem parte de suas terras para a plantação de forragens para suporte de alimentação para os animais. A forragem é preparada através da mistura da leucena, da palma e da mandioca, que são colocadas ao sol para secar e, em seguida, são ensacadas e conservadas para o período da seca. Atualmente, nove famílias atuam no banco de proteínas que é utilizada também para alimentar a criação de galinha caipira e os caprinos.
A família de seu Martin revela que com o banco de sementes o rebanho cresceu muito, pois antes, no período da seca, os animais morriam de fome. A mistura, quando verdinha, também é utilizada para o consumo da família.
Caminhando em direção a outra comunidade, fui conhecendo a realidade de um povo que sofre com a seca e se alegra com a chuva, e naquela tarde não parava de chover, até eu não resisti e caí na água. Enquanto meus companheiros de viagem procuravam um local para estacionar o carro, eu me molhava naquela forte chuva em pleno semiárido para a alegria das famílias que acompanhavam nossa aventura pelas frestas das janelas em suas casas simples e acolhedoras.
Fomos acolhidos justamente em uma dessas residências. Chegamos à casa do apicultor Mariano de Castro no finalzinho da tarde de um dia nublado e cinzento, mas alegre, pois a chuva molhava a plantação e fazia crescer as flores para a felicidade dos apicultores da região. Juntamente com seu irmão, Mariano cria 500 enxames de abelhas melíferas, que são criadas em áreas com abundância de plantas produtoras de néctar que produzem um produzem um mel suave e claro, o que varia de acordo com a florada que, de janeiro a maio, é a do marmeleiro.
O produtor sabe qual o melhor momento para colher o mel e a quantidade certa, sem prejudicar as abelhas. Ele tira unicamente os favos que contém mel maduro, mas o ideal, confessa o produtor, seria que eles tivessem uma centrífuga, pois a máquina não quebra os favos de mel. Mesmo sem a tecnologia, os produtores procuram cuidadosamente retirar o mel dos favos com as mãos, num processo demorado e delicado. Depois de extraído, o mel é peneirado e colocado nos depósitos, pronto para o consumo. Antes de ser engarrafado e ser distribuído para os consumidores, o mel é filtrado para que fique livre dos restos de cera.
Os apicultores levam 12 dias na produção do mel e a quantidade varia de acordo com a florada. O produto é vendido geralmente para atravessadores a um preço de R$ 55,00 a lata com 18l de mel. O litro custa R$ 2,10. De tudo que é vendido, 30% é utilizado para reinvestir na produção e o restante é repassado para as famílias dos apicultores.
Enquanto conversávamos com seu Mariano, íamos provando aquele delicioso mel. Nunca tinha provado algo tão suave, diferentemente daqueles produtos que consumimos nos supermercados. Aquele mel era fruto de um trabalho familiar aliado à natureza. A conversa foi interrompida pela necessidade, pois precisávamos retornar a SRN, para escrever, arrumar a mala e pegar o ônibus em direção a Teresina.
Enquanto escrevo esta história bate uma saudade desse período, em que eu viaja e voltava para casa. Agora, minha rotina de vida ganhou nova moradia, localizada em uma outra cidade de outro estado. São esses pequenos fatos que nos fazem recordar de tempos bons e vividos intensamente, muitas vezes só valorizados quando eles passam e nós encontramos uma nova e desafiadora realidade.
O primeiro personagem foi seu Martin Araújo, de 74 anos, morador do sítio cachoeira. Há 43 anos, ele mora na comunidade com os dois filhos, e recorda que o cerrado era a vegetação predominante e que não tinha casa e aos poucos foi construindo um rancho embaixo de um umbuzeiro. Aos poucos a comunidade foi crescendo e, atualmente moram 16 famílias que se sustentam da agricultura.
Seu Martin também foi o pioneiro a participar do banco de proteínas, uma iniciativa desenvolvida pelo projeto Dom Helder Câmara (PDHC) que estimula os agricultores a destinarem parte de suas terras para a plantação de forragens para suporte de alimentação para os animais. A forragem é preparada através da mistura da leucena, da palma e da mandioca, que são colocadas ao sol para secar e, em seguida, são ensacadas e conservadas para o período da seca. Atualmente, nove famílias atuam no banco de proteínas que é utilizada também para alimentar a criação de galinha caipira e os caprinos.
A família de seu Martin revela que com o banco de sementes o rebanho cresceu muito, pois antes, no período da seca, os animais morriam de fome. A mistura, quando verdinha, também é utilizada para o consumo da família.
Caminhando em direção a outra comunidade, fui conhecendo a realidade de um povo que sofre com a seca e se alegra com a chuva, e naquela tarde não parava de chover, até eu não resisti e caí na água. Enquanto meus companheiros de viagem procuravam um local para estacionar o carro, eu me molhava naquela forte chuva em pleno semiárido para a alegria das famílias que acompanhavam nossa aventura pelas frestas das janelas em suas casas simples e acolhedoras.
Fomos acolhidos justamente em uma dessas residências. Chegamos à casa do apicultor Mariano de Castro no finalzinho da tarde de um dia nublado e cinzento, mas alegre, pois a chuva molhava a plantação e fazia crescer as flores para a felicidade dos apicultores da região. Juntamente com seu irmão, Mariano cria 500 enxames de abelhas melíferas, que são criadas em áreas com abundância de plantas produtoras de néctar que produzem um produzem um mel suave e claro, o que varia de acordo com a florada que, de janeiro a maio, é a do marmeleiro.
O produtor sabe qual o melhor momento para colher o mel e a quantidade certa, sem prejudicar as abelhas. Ele tira unicamente os favos que contém mel maduro, mas o ideal, confessa o produtor, seria que eles tivessem uma centrífuga, pois a máquina não quebra os favos de mel. Mesmo sem a tecnologia, os produtores procuram cuidadosamente retirar o mel dos favos com as mãos, num processo demorado e delicado. Depois de extraído, o mel é peneirado e colocado nos depósitos, pronto para o consumo. Antes de ser engarrafado e ser distribuído para os consumidores, o mel é filtrado para que fique livre dos restos de cera.
Os apicultores levam 12 dias na produção do mel e a quantidade varia de acordo com a florada. O produto é vendido geralmente para atravessadores a um preço de R$ 55,00 a lata com 18l de mel. O litro custa R$ 2,10. De tudo que é vendido, 30% é utilizado para reinvestir na produção e o restante é repassado para as famílias dos apicultores.
Enquanto conversávamos com seu Mariano, íamos provando aquele delicioso mel. Nunca tinha provado algo tão suave, diferentemente daqueles produtos que consumimos nos supermercados. Aquele mel era fruto de um trabalho familiar aliado à natureza. A conversa foi interrompida pela necessidade, pois precisávamos retornar a SRN, para escrever, arrumar a mala e pegar o ônibus em direção a Teresina.
Enquanto escrevo esta história bate uma saudade desse período, em que eu viaja e voltava para casa. Agora, minha rotina de vida ganhou nova moradia, localizada em uma outra cidade de outro estado. São esses pequenos fatos que nos fazem recordar de tempos bons e vividos intensamente, muitas vezes só valorizados quando eles passam e nós encontramos uma nova e desafiadora realidade.